terça-feira, 28 de abril de 2015

Hamlet

Tudo é teatro. A consciência que pesa é essa consciência que sabe ver que tudo é teatro. Pesa e ao mesmo tempo diverte. O ator sabe que mente, e sabe que os outros mentem também. Para além disso, o ator compreende que para existir é preciso saber mentir. O ator assombra-se com a visão que lhe é entregue dos fios presos à marionete. O homem é esse boneco oco, atado a fios, todo articulado, hipócrita até a raiz da alma quando acredita ser ele o dono de seu próprio destino. Mente. E se não sabe que mente é simplesmente porque não reconhece quem é. É por essa razão que nenhum personagem chega aos pés de Hamlet. Ele é tudo: ator que age, personagem de si mesmo, espectador que se olha pelos olhos dos outros que o olham. Hamlet é grandioso porque é ele próprio o teatro que condena, e que, com ele, também pode encantar-se. Se há algum registro mais genuíno do que fomos, no dia em que deixarmos de ser que somos, ele não estará nos restos dos nossos futuros fósseis, e sim na memória desse farsante grandioso, produto da mente de Shakespeare.

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