sábado, 25 de abril de 2015

#

A beleza de se fazer teatro é que se trabalha quando os outros, que trabalham, estão de folga. E nós, que fazemos teatro, trabalhamos num tipo de trabalho que os outros, que trabalham, nunca conseguem dar conta de entender por completo. Porque o nosso trabalho, o dos atores de teatro - ainda que infinitamente trabalhoso - esgota um outro tipo de departamento que ninguém, a rigor, entende a sua essência. Porque é comum àqueles que trabalham em qualquer outro tipo de trabalho que não seja esse que nós, atores de teatro, trabalhamos, associar o trabalho à miséria que é ter de trabalhar, e, assim, continuar trabalhando até que a soma do dinheiro que possa vir a cair na conta seja suficiente para, um dia, deixarem, finalmente, de precisar trabalhar, e, assim, poderem desfrutar de uma folga eterna. Esse é o departamento que faz com que nós, atores de teatro, sejamos privilegiados. Porque se trabalhamos é porque não precisamos trabalhar, e sim porque é fundamental que trabalhemos. E justamente trabalhamos enquanto os outros, que trabalham, estão de folga, quando a esquizofrenia tão típica àqueles que trabalham oferece uma breve pausa. É essa pausa que compete a nós, atores de teatro, conferir sentido. Porque de alguma maneira nós, atores de teatro, somos adeptos da pausa, da interrupção do ritmo frenético do mundo, ansiosos por remar contra a correnteza das equações de causa e efeito. A beleza de se fazer teatro é também a beleza de poder ser ator de teatro. Quando tudo e todos, incluindo nós, oferecemos, experimentamos e compartilhamos... a pausa.

...

Nenhum comentário:

Postar um comentário