sábado, 7 de março de 2015

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Ator não se desnuda em cena. Ator não aparece, não é feito da matéria de aparecimentos. Não se despudora, não se despe em camada nenhuma, não faz da sua vida íntima laboratório de nada. Ator não é essa figura destemida que abre as entranhas ao julgamento alheio. Essa história de que o ator não tem medo do ridículo é de uma estupidez juvenil. Tudo o inverso! O ator é retraído, apavorado pelo ridículo de sua ousadia de dar-se aos olhares de outros. Esconde-se, não revela nada de si. Seu ofício é de camuflamentos, esconderijos, cantos de sombra e silêncio. Seu símbolo é a máscara, o artifício. Que desgraça de mundo cujo maior exemplo de talento é esse, que faz do ato público um cubículo de convergência personalista, terapêutica? O teatro, a expressão, a poesia, a metáfora, tudo escorre pelo ralo quando o ator acredita fielmente em sua patética ideia de que é ele a coisa mais interessante do planeta.


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