domingo, 19 de novembro de 2017

Esse 'interpretar' deveria ser proibido no dicionário. Sugere coisa interna, circunscrita a um perímetro. Esse inter do interpretar é de um desserviço. Lembro da escola, dos campeonatos de intercalasses, um punhado de times condenados a competir entre si. Quem foi que inventou esse verbo para resumir o trabalho do ator? Deveria ser exonerado do cargo de conselheiro gramatical imediatamente - vinde a nós, oh Camões, socorrei-nos! Ator não é da praia do inter, não internaliza nada, ao contrário, ator é do time do exo, do fora, do para além de... Ao invés de interpretar, deveria ser catapultar, expelir, arremessar para longe. Personagem não se resolve na instância íntima. É - isso sim -, território do espectador. Ele que se vire com a personagem. O ator tem como função jogar a personagem para longe do palco, despejá-la no colo da audiência. Ela, a audiência, que resolva o que fazer, como traduzir, de que maneira interpretar o que lhe chega através do esforço do ator.
Não interpretamos nada. Esse tal de interpretar que fique com o povo da televisão, com os atores de estúdios, com os diretores que dirigem sussurros, gemidos, piscadelas para que a câmera possa registrar esse conjunto sem sal de espasmos dramáticos. Ator - e ator só é ator porque é ator no teatro - faz outra coisa completamente diferente.



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