domingo, 26 de novembro de 2017

Não se forma um artista através do ser humano, mas é através da arte que se chega ao homem. Boas maneiras não pintam um quadro. Beethoven foi o homem que foi porque compôs a nona sinfonia, não compôs a nona sinfonia porque era um homem com qualidades éticas e morais que lhe outorgavam o direito a compor a obra. Arte é um obstáculo, não uma consequência de quem é o artista na sua esfera íntima. Somos bons atores e atrizes não porque somos bons atores e boas atrizes. Somos bons atores e boas atrizes porque as personagens que fazemos são boas. É a coisa bem feita o que nos torna bons, nunca nós, que somos primeiramente bons, que tornamos a coisa boa. Antes da pessoa vem algo a ser feito. É esse algo, a maneira de realizá-lo, o que a define. Inverter essa equação é afrouxar a expressão, é render a potência de um gesto à flacidez do companheirismo, do bairrismo, daquilo que nasce e morre imediatamente sem qualquer energia para além do autor que a produziu. Por uma necessidade de sobrevivência matamos as nossas ações. Ao contrário, se morrêssemos primeiramente o produto de nosso esforço seria duradouro, e justamente porque a atenção já não está mais em nós, mas em algo mais essencial e urgente, algo que exige a atividade concreta de ser feito.


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