segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Arte tem a ver com inteligência. Todo artista deveria ser um intelectual, alguém que pensa, e que pensa para além do que é pensado pelas esquinas da vida. Pensamento que em nada tem relação com alternativas para o alívio das moléstias dos dias, soluções para problemas, remédios para doenças éticas ou morais. Pensamento puro e simples, de quem pensa e assume as dores e dificuldades de pensar, doa a quem doer. E, para isso, arte tem a ver com formação, com preparo, com temporadas de silêncio para que se possa alçar o direito de poder dizer alguma coisa com um mínimo de autonomia. Nossa miséria é que essa ideia neoliberal que confere ao mercado o sentido de sucesso de tudo o que se entende por mercadoria transmite à arte uma idiotice exemplar para aquilo que entendemos por ser artista hoje. E a arte - que necessariamente é, ou deveria ser, um terreno pedregoso - vira um pagode de boteco. Tudo fica fácil e gostoso porque fazer o que se faz é tão gostoso quanto filar um churrasco enquanto se batuca um samba no tamborim. Hoje o artista é o oportunista, aquele que agarra a oportunidade com unhas e dentes, aquele que está no lugar certo e na hora certa para poder acontecer no instante certeiro. É aquele que é famoso pela imagem que o tornou famoso, mas que de substância é tão cru e vazio que mal consegue se suster de pé. E as plateias de hoje já são idiotas o suficiente para louvar esse grande ícone da idiotice aclamada que virou o ser-artista de hoje.
Todo artista só deveria ser assim chamado caso fosse alguém culto, de uma erudição ímpar, alguém que pudesse enfrentar o mundo com a petulância de querer contestá-lo, jogar no focinho dos outros as nossas idiossincrasias que nos tornam maravilhosos e hipócritas ao mesmo tempo. Arte tem a ver com inteligência. Com gente inteligente e extremamente evoluída em todas as faculdades que competem a tarefa do pensar.


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