segunda-feira, 3 de abril de 2017

Acho que tudo é uma questão de saber agir pela periferia. O erro está sempre em querermos acertar o alvo. Quando isso ocorre é inevitável não acertar qualquer coisa. O princípio é o mesmo para o violino e para o ator. Não se pode querer tocar a nota, ainda que seja dever do músico tocá-la. Não se deve querer representar a personagem, ainda que o ator tenha sido convocado justamente para essa tarefa. Há sim tantos ajustes corporais, dosagem de tensões, entendimento do peso e da qualidade dos movimentos, um teste infinito de como respirar para ter fôlego, ou de como não obstruir a fluência de um gesto... enfim, tantos afinamentos periféricos que pouco sobra para querermos ser a nota tocada, ou a personagem representada. A nota limpa, a voz clara, são o resultado de um trabalho de minúcias conscientes e, por vezes, intuitivas também. Tudo na periferia. O exercício é abrir passagem para o centro. Somente isso. O centro que é e sempre continuará sendo forjado por matéria misteriosa, indecifrável. Dele não é necessário ocupar-se, basta deixá-lo atravessar seu natural percurso. E isso já é um trabalho hercúleo. Violinista e ator são faces da mesma moeda. São funcionários de pequenas ações invisíveis ao público, mas essenciais para que algo aconteça no plano poético.


...



...

Um comentário:

  1. Que maravilha! Talvez pensar o pensar de não pensar. Será por isso que Mariana, de seis anos ao chorar disse, mãe eu não queria ser uma pessoa só um animal???

    ResponderExcluir