domingo, 4 de dezembro de 2016

Shakespeare é teatro, e, sendo teatro, basta que assim seja. Porque é de praxe incutirmos um milhão de análises sociológicas, antropológicas, pisco-fisiológicas, humanistas e umbandistas nas personagens shakespearianas. Que são só personagens de uma trama de teatro. E, sendo assim, assim está ótimo que continue sendo. E deveria ser assim também, dessa mesma forma, para o ator que representa uma personagem de Shakespeare: basta subir ao palco para representar uma personagem de Shakespeare. E as personagens de Shakespeare, maravilhosa vantagem!, já vem prontinhas, saídas direto do forno para serem representadas, sem a necessidade dos seus laboratórios pessoais, das suas sessões de terapia, dos seus mergulhos em pesquisas íntimas. Mas, então, se tudo é tão raso assim, por que raios é tão difícil representar uma personagem de Shakespeare? Talvez porque as personagens de Shakespeare já tenham nascido assim, com essa natural dificuldade em serem representadas. Porque, definitivamente, não será a sua tentativa de decifrar as personagens de Shakespeare o que as tornará interessantes à plateia. Por incrível que possa parecer, Shakespeare ainda é mais interessante do que eu e você, e o nosso esforço hercúleo de fazê-lo mais visível do que ele já é, e sempre foi, e muito antes que eu e você, juntos e somados, imaginássemos ser alguma coisa nesse mundo.



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