sábado, 20 de agosto de 2016

O preço maior que se paga por ser ator é o reconhecimento de que tudo é teatro. Que há teatro na esquina de sua rua. Que o padeiro da padaria não é um padeiro de fato, mas alguém que vestiu a personagem do padeiro. E assim ele segue sendo padeiro sem desconfiar de que não é padeiro coisa nenhuma. E assim ocorre com todo mundo, com tudo, com todos os cenários e situações. Há teatro em tudo. A regra é haver teatro. Não conhecemos outra maneira de viver senão fingir que vivemos sem suspeitar de que fingimos. Mas o ator de ofício - esse sim -, compreende tudo isso. Ele mente e sabe que mente. E a única chance que há de ser sincero consigo mesmo é a de dizer a verdade no palco maior da mentira: o próprio teatro. E o fardo é justamente esse: reunir energias suficientes para quando as cortinas se abrirem a farsa da vida não interferir na sua vocação particular de dizer que tudo, absolutamente tudo - do começo ao fim -, é uma grandessíssima ilusão.
Paga-se um preço grande pela escolha de ser ator. Ou alguém duvida de que a vida do padeiro que não é padeiro mas acha que é padeiro é infinitamente mais tranquila e desejável?



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