O preço maior que se paga por ser ator é o reconhecimento de que tudo
é teatro. Que há teatro na esquina de sua rua. Que o padeiro da padaria
não é um padeiro de fato, mas alguém que vestiu a personagem do
padeiro. E assim ele segue sendo padeiro sem desconfiar de que não é
padeiro coisa nenhuma. E assim ocorre com todo mundo, com tudo, com
todos os cenários e situações. Há teatro em tudo. A regra é haver
teatro. Não conhecemos outra maneira de viver senão fingir que vivemos
sem
suspeitar de que fingimos. Mas o ator de ofício - esse sim -,
compreende tudo isso. Ele mente e sabe que mente. E a única chance que
há de ser sincero consigo mesmo é a de dizer a verdade no palco maior da
mentira: o próprio teatro. E o fardo é justamente esse: reunir energias
suficientes para quando as cortinas se abrirem a farsa da vida não
interferir na sua vocação particular de dizer que tudo, absolutamente
tudo - do começo ao fim -, é uma grandessíssima ilusão.
Paga-se um preço grande pela escolha de ser ator. Ou alguém duvida de
que a vida do padeiro que não é padeiro mas acha que é padeiro é
infinitamente mais tranquila e desejável?
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