terça-feira, 28 de outubro de 2014

# O Ator detesta falar...

O que há de mais condenatório nessa vida é ter de falar. E como não fosse condenação suficiente, ainda há aqueles que por ofício falam sobre a urgência de ter de falar. E assim replicam a tragédia. Duas vezes condenados. Os atores são dessa espécie. E sabem que o são. Por isso, ao subir ao palco, os atores não buscam nada de fundamental quando dizem o que dizem. Ao contrário. O ator convive com uma dor essencial que é despejar o quanto antes o conteúdo de sua palavra, livrar-se dela, acabar de vez com o inglório fardo de ser o portador de qual verbo seja. O ator é um carrasco de toda e qualquer linguagem, principalmente da linguagem que compreende a palavra. O ator não quer dizer. Quando diz é porque quer, o quanto antes, acabar de dizer. Voltar ao silêncio. Fechar a cortina. Desaparecer. Nada mais assombroso, ignominioso, do que essa espécie de ator contemporâneo que fala em cima do palco para depois, longe dele, continuar falando, e mais ainda.

...


...

Nenhum comentário:

Postar um comentário