sábado, 4 de outubro de 2014

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Uma das maravilhas de ser ator e de poder subir ao palco - talvez a maior delas! - e distante dessa presunção banal que virou o ofício do artista, a de aparecer frente ao público para produzir ídolos afeitos aos hormônios das multidões - é justamente a sorte de poder experimentar duplicar, ou replicar, o princípio mais básico da vida, seja ele o de dar alguma substância humana no instante em que essa substância se torna viva e concreta. A sorte de fazer teatro e de ser ator é que é impossível, ao frequentar tal terreno, não se dar conta de que a vida fora dos perímetros da ficção é ela própria um teatro construído e banal, cenário onde o homem inventa enredos para sobreviver ao mistério de se saber vivo sem ter razões maiores para tal. Assim, tudo o que é imaterial (Deuses, espíritos, bruxas, duendes e afins) surgem para corroborar um medo de ver reconhecida uma precariedade evidente: não somos nada! Não temos importância alguma! O ritual do teatro, se bem entendido e aproveitado, faz com que o ator compreenda que não há misticismo algum na atividade de existir perante ao outro, que a natureza é coisa corpórea - e por isso bela! - e nada fundamentada nessas nuvens psico-dramáticas da personagem, ou ídolos a serem acessados. Não há personagem, não há ideias flutuantes, a boa psicologia é a psicologia do corpo sem qualquer psicologia, entregue à consciência de se saber vivo no instante em que vive. A imaginação só serve quando é revertida em corpo. O resto é atalho para um beco sem saída da vaidade, ou da covardia (lados opostos da mesmíssima moeda).
Que beleza que é ser ator!


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